“Era como se eu não existisse, e agora sinto que posso ser livre”
Valentina Uramiary, 10 anos, deixou a Venezuela junto com os pais e encontrou segurança e acolhimento no espaço Súper Panas, em Boa Vista, Roraima
Cheia de sonhos, Valentina Uramiary, 10 anos, é uma criança que preenche qualquer ambiente com sua alegria. Vinda da Venezuela, a menina está sempre com um sorriso no rosto para quem cruza seu caminho no abrigo onde vive em Boa Vista, Roraima. Lá, Valentina é participante assídua do Súper Panas, um espaço seguro para meninos e meninas retomarem a infância depois de empreenderem a difícil jornada em busca de uma nova vida. “Quando cheguei ao Brasil, fiquei muito feliz, porque sempre quis aprender a língua. Amo estudar português e matemática. Eu adoro o Súper Panas porque aqui posso construir coisas muito bonitas, como desenhar, dançar e brincar”, conta a menina, que entrou no País com os pais em agosto de 2022.
Valentina e a família estão entre as quase 7 mil pessoas abrigadas hoje no estado de Roraima, nas instalações da Operação Acolhida, ajuda humanitária liderada pelo Governo Federal e parceiros para responder ao fluxo migratório da Venezuela. Em todo o Brasil, vivem hoje 397 mil refugiados e migrantes do país vizinho.
Para acolher crianças e adolescentes que chegam ao Brasil, o UNICEF criou o Súper Panas, espaços de apoio psicossocial, educação não formal e proteção contra a violência.
“Os professores daqui são os melhores que já tive, com eles me sinto muito bem. Antes me sentia sozinha, como se eu não existisse, mas agora sinto que posso ser livre”, revela, com emoção, a menina.
A dedicação de Valentina é reconhecida entre aqueles que a cercam. “Ela é a primeira a chegar. Está sempre alegre e sorrindo, conversando com todos”, diz Ângelo Chirinos, assistente de Proteção do Instituto Pirilampos, parceiro do UNICEF na estratégia Súper Panas.
Para o pai de Valentina, Leovanny Ugas, ter um espaço de acolhimento para a filha foi fundamental. “O espaço Súper Panas é muito importante para Valentina brincar, despertar a criatividade, ter disciplina e compartilhar com outras crianças. Meu sonho é que ela logo consiga uma vaga na escola e possa ser alguém na vida”.
Para além dos espaços em si, o Súper Panas é também uma estratégia do UNICEF e parceiros que atua em coordenação direta com os governos e instituições locais, de forma a assegurar a ligação entre ações emergenciais e políticas públicas. Focando no aprimoramento da capacidade de inclusão adequada de refugiados e migrantes no sistema educacional brasileiro, são promovidos treinamentos, articulação política intersetorial e desenvolvimento de estratégias e de materiais adaptados.
“Muitas das crianças que vêm da Venezuela chegam aqui sem esperança. Não existe preço depois vê-las felizes e sorridentes, poder acompanhar suas vitórias e ver os seus sonhos compartilhados com a família. É isso o que me motiva”, afirma Chirinos.
Para Valentina, a mudança para o Brasil trouxe novas perspectivas de vida. “Eu amo dançar. E aqui eu posso dançar balé e samba. Meu sonho é ser bailarina”, revela ela, sobre o percurso que pretende seguir junto com os estudos.
“Quando chegamos aqui foi muito difícil, mas é surpreendente o que se pode fazer quando se tem vontade, como, por exemplo, mudar de país onde se fala outro idioma, começar do zero e buscar trabalho. Estou esperançoso”, relata o pai de Valentina.
Sobre a estratégia Súper Panas
O UNICEF apoia o poder público e trabalha com a sociedade civil para garantir os direitos de crianças e adolescentes refugiados e migrantes a educação e proteção. Com isso, foram criados os espaços chamados Súper Panas – que significa “super amigos” em espanhol.
Com 26 espaços abertos hoje, os Súper Panas em Roraima, no Amazonas e no Pará já atenderam mais de 45 mil crianças e adolescentes com atividades educacionais não formais, ações de proteção da criança contra a violência e de apoio psicossocial. A estratégia conta com o apoio financeiro do Escritório para População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos Estados Unidos (PRM, na sigla em inglês) e do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (Echo, na sigla em inglês).
Nesses espaços, meninos e meninas podem retomar a infância e são apoiados para acessar a rede pública de ensino, encontrando um espaço seguro para continuar crescendo. Com o apoio do Instituto BRF, quatro desses espaços em Boa Vista – que antes funcionavam em tendas – agora contam com novas instalações fixas, de alvenaria e com banheiros.
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