“Conforme eu for estudando, eu vou conhecer novas possibilidades”
O adolescente Frederick reencontrou no espaço Súper Panas, em Boa Vista, Roraima, a vontade de construir um presente e um futuro melhor. Vindo da Venezuela, ele sente falta de familiares e amigos
Como muitos refugiados e migrantes da Venezuela, Frederick Obis, de 14 anos, veio ao Brasil em busca de uma vida melhor. Há sete meses no País, chegou com os pais, quatro irmãos e um sobrinho. No abrigo onde vive agora, em Boa Vista, Roraima, o adolescente é um participante ativo do Súper Panas, espaço de apoio psicossocial, educação não formal e proteção contra violência mantido pelo UNICEF.
“As atividades que fazemos lá são muito legais e interativas. E o professor é incrível!”, conta Frederick, natural de San Félix, na Venezuela. “O que eu mais gosto de fazer são as atividades com o computador. Eu na verdade adoro estudar, principalmente história. Agora estão buscando uma escola para mim”, diz o adolescente, enquanto participa do Súper Panas e aguarda a fila de espera para se juntar à rede pública de ensino.
Frederick é um menino participativo, como reconhece a equipe que trabalha no Súper Panas. “Ele sempre pergunta: como está o meu professor favorito? O que vamos fazer hoje?”, conta Ângelo Chirinos, assistente de proteção do espaço no abrigo Rondon 1 e 4.
“Nós sempre incentivamos os jovens a estudar. Lembramos que o abrigo é só o primeiro passo e que o estudo vai desenvolvê-los para trabalhar em uma boa empresa e ter um melhor cargo. Nós sempre mostramos a eles os diferentes tipos de carreira, apoiando-os para que se mantenham motivados e possam sonhar”, diz o assistente de proteção.
“Não sei o que quero ser quando crescer, mas acredito que, conforme eu for estudando, eu vou conhecer novas possibilidades e vou descobrir de qual área gosto mais”, relata Frederick.
Mas a alegria não impede Frederick de lembrar o quanto de coisas teve que deixar para trás, o que o deixa triste. “Aqui é muito bom e nos atenderam muito bem. Mas me sinto sozinho. Fui criado pelos meus avós, então é estranho não estar perto deles e dos meus amigos”, diz, com os olhos mareados.
Frederick e a família estão entre as quase 8 mil pessoas abrigadas hoje no estado de Roraima, nas instalações da Operação Acolhida, ajuda humanitária liderada pelo Governo Federal e parceiros para responder ao fluxo migratório da Venezuela. Em todo o Brasil, vivem hoje 376 mil refugiados e migrantes do país vizinho.
Apesar dos desafios, o rapaz deseja construir um futuro melhor e a vida da família segue progredindo. “Sempre falo que todos nós temos um sonho e devemos encontrar maneiras de tentar que se realizem. A mãe de Frederick é um desses exemplos. Ela espalhou currículo por toda a cidade e conseguiu um emprego de manicure. Conversamos muito para que eles possam se desenvolver e prosperar”, conclui o assistente de proteção do espaço Súper Panas.
Sobre o Súper Panas
O UNICEF apoia o poder público e trabalha com a sociedade civil para garantir os direitos de crianças e adolescentes refugiados e migrantes a educação e proteção. Com isso, foram criados os espaços chamados Súper Panas – que significa “super amigos” em espanhol.
Com 26 espaços abertos hoje, os Súper Panas em Roraima, no Amazonas e no Pará já atenderam mais de 45 mil crianças e adolescentes com atividades educacionais não formais, ações de proteção da criança contra a violência e de apoio psicossocial. A estratégia conta com o apoio financeiro do Escritório para População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos Estados Unidos (PRM, na sigla em inglês) e do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (Echo, na sigla em inglês).
Nesses espaços, meninos e meninas podem retomar a infância e são apoiadas para acessar a rede pública de ensino, encontrando um espaço seguro para continuar crescendo.