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“A conectividade pode ser uma grande aliada dos jovens da favela”

Após participar do projeto Zona Nossa, no Rio de Janeiro, Natã Caetano pretende multiplicar o conhecimento sobre os direitos de jovens e adolescentes negros na sua comunidade

UNICEF Brasil
Foto mostra um adolescente olhando para a frente. Ele está com uma camiseta preta com o logo do projeto Zona Nossa
UNICEF/BRZ/Bel Junqueira
05 abril 2023

Natã Caetano é um adolescente negro morador do Complexo do Chapadão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Aos 16 anos, quase nunca sai da região da Grande Pavuna, onde divide seus dias entre ir à escola, jogar videogames que não exigem conexão à internet e desenhar – uma das coisas que mais gosta de fazer.

No ano passado, Natã, junto com dois colegas de turma, resolveu mostrar o resultado do trabalho de desenho que tinham feito para a diretora. Já na diretoria, o grupo conheceu Larissa, a instrutora do Zona Nossa, iniciativa do UNICEF em parceria com a ONG Luta pela Paz. O projeto é uma ação da #AgendaCidadeUNICEF e busca produzir metodologias e fluxos de atenção e cuidado de crianças, adolescentes e jovens em situação de violência na Maré e na Pavuna. O estudante considera que esse foi um momento de sorte: “A diretora falou desse tal projeto para a gente e a gente falou que toparia participar. Ela falou que a gente debateria sobre questões políticas, que conversaria mais sobre os direitos dos jovens, essas coisas. Achei isso bem interessante, porque eu não sabia quase nada sobre o assunto”.

Além da sala de aula, o momento mais marcante da formação para Natã foi quando conheceu mais sobre a sua própria história e cultura em uma visita à Pequena África, região da zona portuária do Rio de Janeiro onde africanos e descendentes viviam e cultivavam os saberes dos seus povos. Natã relata que essa foi uma das primeiras vezes em que saiu da Pavuna. “A gente foi aprender mais sobre a cultura africana, achei aquele dia para mim muito marcante. Havia várias obras também sobre pessoas negras na rua”.

O ingresso no projeto previu a entrega de um kit de conectividade com um smartphone, plano de internet e um material formativo online. Dessa forma, hoje Natã tem um acesso mais amplo à conectividade e costuma usá-lo tanto para o lazer no acesso às redes sociais e conteúdos escolares, quanto para saber o que acontece nas vielas do Chapadão.

Natã conta que até tinha Wi-Fi em casa, mas a conexão era precária e quando ia para a rua ficava incomunicável. Por essa razão, não foram poucas as vezes em que não teve como avisar para a mãe que sairia mais tarde da escola. Também era comum só descobrir que houve um confronto armado no complexo onde mora depois de chegar em casa, passando por momentos de vulnerabilidade sem nem saber. Por meio das suas experiências cotidianas, o jovem estudante entende que a conectividade poderia se tornar um grande aliado dos adolescentes de favela.

“Estar conectado à internet na periferia é bem importante. Às vezes acontecem coisas quando você está saindo de casa e você não sabe. É bom para você já sair um pouco mais alerta”.

Por outro lado, Natã costuma encontrar nos amigos uma forma de burlar o acesso precário à informação e circular pelo próprio Chapadão. “O meu amigo sai mais cedo do que eu – ele estuda de manhã e eu estudo de tarde. Quando está acontecendo operação, ele me avisa. Acho que a maioria dos jovens (de periferia) pensa assim”.

Poder se conectar veio junto com a oportunidade de acessar novas informações e oportunidades. “Para um menino negro de periferia, não saber os seus direitos é meio que arriscado. É importante quando você for parado pela polícia já saber o que eles podem fazer ou não com você”.

Foto mostra um grupo de jovens conversando.
UNICEF/BRZ/Bel Junqueira

Movido pela frase que guiou a formação do projeto, “e se a Zona Norte fosse o meu país?”, os adolescentes do Zona Nossa mobilizaram o Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca) para pensar um plano de ação com soluções para a região. Além da segurança, as propostas passam por áreas como saúde, inserção no mercado de trabalho e construção de áreas de lazer e esporte na Pavuna. “Existem lugares ótimos aqui para fazer praças, campos de futebol, espaços para as pessoas se divertirem”.

Para Natã, as ausências identificadas pelos adolescentes são mais um sintoma de que a juventude precisam ser a mudança da Zona Norte. Por isso, pensa em fazer a sua parte multiplicando o que aprendeu para amigos e conhecidos.

“Eu pretendo botar em prática o que aprendi com o Zona Nossa. Quando chegar algum amigo perguntando, por exemplo, ‘tu sabe o que a polícia pode ou não fazer comigo?’, eu posso falar sobre os direitos dos jovens de periferia”.