“É como se fosse meu primeiro dia na vida”
Raiane, de 13 anos, vive a expectativa pela reabertura das escolas em Trairi, no Ceará. Ela se sente pronta e quer contribuir para um retorno seguro

A adolescente Raiane Barbosa Lima, de 13 anos, do município de Trairi, no Ceará, a 137 km de Fortaleza, vive a expectativa para o retorno às aulas presenciais. Assim como todas as crianças e todos os adolescentes de sua cidade, Raiane está há 18 meses sem ir para a escola. Como forma de conter o avanço da pandemia de covid-19, as aulas estão ocorrendo apenas de forma online. Mas Raiane participou de formações sobre práticas de prevenção e controle do coronavírus e acredita que está pronta para contribuir para um retorno seguro às escolas. Como seus três irmãos, Raquele, Ray e Jeremias, de 10, 8 e 5 anos, a adolescente não vê a hora de voltar.
Raiane participou de uma roda de diálogo com estudantes do município de Trairi para discutir o retorno às aulas presenciais. A ação faz parte da resposta do UNICEF à covid-19 no Semiárido, realizada em parceria com a AVSI Brasil, que busca contribuir para a continuidade dos serviços essenciais de saúde e educação, garantindo os direitos de meninas e meninos. A adolescente Raiane acredita que o encontro foi proveitoso. “Todo mundo deu sua opinião sobre o retorno. Eu e meus colegas manifestamos interesse imediato em retornar, mas, para isso acontecer, ficou claro que depende de todos, e não só da escola”, explica.
Ansiosa pelo retorno, ela descreveu também que aprendeu algumas medidas que devem ser implementadas na escola para o retorno, como a orientação da higienização das mãos antes de entrar nas salas e adoção de distanciamento. Raiane acredita que não terá muita dificuldade para seguir os protocolos sanitários. “No início pode ser difícil, mas depois vira hábito e fica tudo certo. Estou contando os dias e pedindo a Deus para que dê tudo certo. Muito tempo sem ir à escola, o frio na barriga é como se fosse meu primeiro dia na vida”, conta Raiane.
Para evitar aglomerações, a roda de conversa envolveu um grupo de estudantes que teria a missão de multiplicar a informação compartilhada. “Compartilhei com os colegas que não puderam participar do encontro, conversamos muito e todo mundo se comprometeu a repassar as informações até chegar a quem ficou de fora”, afirma Raiane, fortalecendo a rede. A escola também reforçou as recomendações com os alunos para o retorno seguro, e enviou um comunicado às famílias com todas as dicas e protocolos a seguir, como o uso obrigatório de máscaras, o distanciamento físico, uso de álcool em gel e a higienização das mãos.
Apoio da família – A mãe de Raiane, Antônia Gleiciane, diz que apoia o retorno. “Eu incentivo minha filha a ser uma aluna de destaque. Não para ser melhor que os outros, mas para buscar e alcançar o melhor dela. Nós, pais, sempre queremos o melhor para nossos filhos, ter boas notas, conseguir uma boa profissão”, ressalta. No aguardo pelas aulas presenciais, Antônia conta que tem conversado com os filhos, ensinado práticas de prevenção contra o coronavírus. Muitas dicas, inclusive, foram passadas pela própria filha, que após participar do grupo de diálogo, levou as informações para a família. “Cabe a nós, pais, ensinar e incentivar nossos filhos para que voltem à escola. Já faz mais de um ano que as crianças estão estudando online, e não está sendo fácil”, comenta.
Raiane relata que foi difícil se adaptar ao período de escolas fechadas. “No início, foi um sentimento muito estranho ver as aulas sendo interrompidas. Tive um pouco de dificuldade com os conteúdos virtuais e foi preciso lidar também com os imprevistos em relação à tecnologia. A presença do professor faz muita, muita falta”, destaca. Apesar da dificuldade com a internet, o acesso à conexão foi fundamental para manter o vínculo com amigos. Ela e os colegas se encontravam virtualmente, por meio de um aplicativo de videoconferência, para conversar sobre as aulas e reduzir a saudade.
Para Antônia, nada melhor que o ambiente escolar, com os professores e coordenadores, para dar seguimento à educação de seus filhos. Ela não esconde sua alegria ao pensar no retorno das aulas presenciais. “A gente fica com aquela ansiedade, como se eles fossem começar a estudar no maternal. Estou feliz porque o pior já passou. Somos vencedores e creio que vai dar certo a volta à escola”, diz.
O município ainda não tem data definida para essa reabertura. Para contribuir com essa preparação, o UNICEF fez a doação de kits de higiene e material de comunicação para nove escolas, além de lavatórios de mãos para sete unidades educacionais, atendendo 2.820 estudantes. A iniciativa também realizou a formação com profissionais, familiares e estudantes. A mesma ação realizada em Trairi contempla outros 38 municípios no Ceará, na Bahia e em Pernambuco.