Como comunicar medidas relacionadas à Covid-19 para milhões: lições aprendidas da China
Dennis Larsen, coordenador do UNICEF para o Semiárido, no Brasil, foi apoiar a resposta do UNICEF na China ao surto de Covid-19. Com formação em Comunicação para o Desenvolvimento (C4D), Larsen trouxe de lá lições valiosas.

Aterrissando em Pequim em meados de fevereiro, Dennis Larsen chegou à China em um momento crítico – a crise do coronavírus havia começado a atingir a cidade de Wuhan, onde o surto começou no final de 2019. O vírus também já tinha começado a se espalhar pelo mundo.
Após semanas de infecções crescentes, a vasta nação começou a coibir a disseminação do novo coronavírus. Mais tarde, os 1,435 bilhão de pessoas da China começaram a voltar lentamente à vida "normal", retornando ao trabalho e à escola. "Esse era o momento em que um grande número [de pessoas] poderia ser infectado, e, por isso, iniciamos uma campanha de volta às aulas", diz Larsen, que, geralmente, está baseado no escritório do UNICEF no Recife, onde ocupa o cargo de chefe desse escritório e coordena as ações do UNICEF para o Semiárido brasileiro. A estratégia C4D da campanha "Volta às Aulas" foi projetada para ajudar a preparar milhões de crianças e adolescentes para que retornassem com segurança aos seus estudos. "A extensa infraestrutura digital da China significava que era possível alcançar pessoas – mesmo aquelas em áreas rurais remotas – pela Internet", explica Larsen.
"O governo já estava se comunicando, alcançando milhões de pessoas por meio das mídias sociais. Eles tinham mensagens e estavam dando conselhos", disse Larsen. A campanha "Volta às Aulas", lançada em colaboração com parceiros do governo, usou metodologias C4D para garantir que a comunicação fosse baseada em evidências, permitisse participação e feedback, incentivasse o envolvimento da comunidade e ajudasse na mudança de comportamento. Outro componente importante foi a documentação das lições aprendidas.
O papel de Larsen era fornecer consultoria estratégica à equipe do UNICEF China, que lançou uma pesquisa online, consultando 18.266 crianças, 27.452 pais e mães e 4.740 professores por meio de grupos focais e questionários virtuais. Essa iniciativa produziu resultados importantes: tornou-se evidente que, embora todos soubessem da importância do distanciamento social, o conhecimento sobre a importância da lavagem das mãos não era tão forte.
"Sabemos que a lavagem das mãos é uma das maneiras mais eficazes de reduzir a propagação do vírus, mas, com base em nossas evidências, vimos que isso não estava no topo da mente das pessoas", lembra Larsen.
Outro aspecto da intervenção C4D do UNICEF focou na saúde mental dos adolescentes. Larsen e sua equipe decidiram entrevistar adolescentes que estavam em quarentena em seus apartamentos nos dois meses anteriores para aprender sobre o impacto do confinamento e isolamento em sua saúde mental. A equipe descobriu que cerca de um terço dos adolescentes relatou sentir medo ou preocupação com o surto.
Embora o governo chinês tenha comunicado mensagens clínicas de saúde mental relacionadas à pandemia, houve uma lacuna no tratamento de problemas emocionais e psicológicos. Uma parceria com a Liga da Juventude Comunista ajudou a equipe a alcançar milhões de jovens com mensagens simples sobre como se manter mentalmente saudável durante a quarentena.
"Ter dados nos fez ver as coisas mais claramente. Ter evidências fez uma enorme diferença, ajudou a melhorar a resposta e criar novos componentes para a resposta."
As lições aprendidas na China também informaram a abordagem de Larsen à pandemia no Brasil, onde o vírus começou a se espalhar quando ele voltou ao País em meados de março. Como na China, a maneira como o UNICEF trabalhava no Brasil teve que mudar drasticamente devido a distanciamento social e restrições de movimento.
"É incrível o quanto pode ser feito por meio do trabalho remoto e da construção de parcerias. Na China, conseguimos entregar mais de 30 toneladas de suprimentos médicos por meio de trabalho remoto", diz Larsen. O que normalmente teria levado dezenas de reuniões presenciais agora foi organizado principalmente via telefone e internet. Essa foi uma lição útil no Brasil, onde o UNICEF, em parceria com o governo, precisava levar rapidamente kits de saneamento e higiene para milhares de famílias nas comunidades mais vulneráveis. "É algo para aprender para o futuro", diz Larsen, apontando o benefício adicional de quão econômico esse método foi.
Isso não significou que a metodologia aplicada na China pudesse ser simplesmente copiada e colada no Brasil. Muitas lições aprendidas precisaram ser modificadas para um contexto nacional diferente. A divisão digital e social muito maior do Brasil significou que o UNICEF teve que atingir cada grupo populacional com uma estratégia separada – uma para crianças na escola, uma para crianças em situação de rua e outra para crianças em centros socioeducativos –, enquanto na China 130 milhões de pessoas puderam ser alcançadas com uma única campanha. "Isso foi uma abertura de olhos", lembra Larsen.
Qual foi o principal aprendizado de Larsen até agora? "É uma situação muito rara e única no mundo em que estamos todos na mesma situação, passando pela mesma experiência... Estamos separados, mas conectados", diz Larsen. Talvez pela primeira vez na história, não importa se você mora no hemisfério norte ou sul, em um país desenvolvido ou não desenvolvido, a pandemia de Covid-19 afeta todos em todo o mundo.
A esperança de Larsen: "Que seja criada alguma solidariedade, se nós nos basearmos no entendimento de que estamos todos no mesmo barco".