“Cidade Tiradentes é uma potência”
Por meio da #AgendaCidadeUNICEF, Juno de Paula, de 17 anos, participou da rede de adolescentes e jovens comunicadores Passa a Visão

Juno de Paula tem 17 anos e vive na Cidade Tiradentes, território localizado na Zona Leste do município de São Paulo. Para ela, “uma das coisas mais legais que existem no bairro é a diversidade”. A afetividade que cultiva pelo seu território é um dos guias na construção da sua identidade e luta por um mundo com menos violências.
Juno está concluindo o ensino médio e é uma menina trans. Ela conta que não enfrentou resistência da sua mãe ao compartilhar a sua identidade de gênero e que nela encontrou e ofereceu acolhimento. Além disso, o lugar em que nasceu e cresceu tem papel fundamental na sua trajetória.
Hoje são 253.630 pessoas que vivem no território da Cidade Tiradentes, das quais 27% são crianças e adolescentes de até 17 anos, de acordo com a Fundação Seade (2021). Juno vê muitas atividades culturais acontecendo por lá que acabam atraindo pessoas de dentro e de fora da região, com uma multiplicidade de identidades que a encanta. “Cidade Tiradentes é uma potência muito grande e uma das coisas mais legais que existem aqui é a diversidade”, diz a adolescente.
Além de conhecer pessoas novas nos eventos do território, Juno gosta de passar o tempo jogando videogame e RPG – estilo de jogo no qual os participantes assumem papéis de personagens e criam narrativas colaborativamente. Fora do tempo vago, além de estudar, Juno colabora com as atividades da Kilombo Cultural – a primeira loja colaborativa da Cidade Tiradentes. “Dá uma independência financeira, porque ser trans é caro”, conta com humor.
Apesar do acolhimento e aceitação que encontrou em sua família, Juno também destaca que, onde vive, nem todas as pessoas têm a mesma perspectiva e experiência que a sua sobre o convívio com quem é diferente. A intolerância e a violência voltada a grupos minoritários é uma das situações que mais a mobilizam. “Eu não consigo parar de me indignar com as situações desumanas que vejo as pessoas passando só por serem quem são”, revela.

Foi participando do projeto Passa a Visão, entre setembro e dezembro de 2022, que Juno aprendeu a identificar melhor os diferentes tipos de violência existentes e, assim, enfrentá-los. A rede de adolescentes e jovens comunicadores é uma iniciativa da #AgendaCidadeUNICEF, em parceria estratégica com o Ministério Público do Trabalho e em parceria de implementação com a ONG Serenas. O seu objetivo é implementar metodologias de mudança de comportamento social para a prevenção das múltiplas formas de violências contra crianças e adolescentes no território da Cidade Tiradentes.
Para Juno, ações de enfrentamento e prevenção das múltiplas formas violência são mais do que necessárias no território em que cresceu. “A gente devia ter mais projetos por aqui, porque este é o bairro de São Paulo que tem a expectativa de vida mais baixa, é extremamente violento e é um dos que têm mais pessoas negras e pardas”, ressalta.
Por meio do Passa a Visão, 50 adolescentes e jovens, incluindo Juno, criaram estratégias de comunicação que agem no território em duas frentes: uma voltada para o teatro e outra para as redes sociais. No grupo de criação de conteúdo para as redes, Juno diz que o principal objetivo era criar um canal que trouxesse acolhimento para quem estiver sofrendo diferentes tipos de violência.
Da primeira fase, o legado que Juno leva foi a oportunidade de atuar pela conscientização sobre as diferentes formas de violência no seu território e se aproximar ainda mais da atuação profissional nas mídias digitais. Pensando em fazer uma formação em Marketing, a adolescente planeja continuar atuando na área e, quem sabe, vivendo em uma realidade menos violenta. Para ela, o sucesso das ações se deve a terem sido criadas e lideradas por adolescentes e jovens. “Da forma que o projeto é estruturado, não poderia ser executado por ninguém além de os jovens, porque a gente já tem uma preparação para fazer o que a gente acha melhor para impactar a periferia”.