Ajuda que vai até o coração da floresta

Em Jacareacanga, Pará, o UNICEF e a Usina Hidrelétrica Teles Pires estão trabalhando para levar doações às comunidades e potencializar vozes de adolescentes

UNICEF Brasil
família posa para a foto: um homem, uma mulher e duas meninas. Eles estão em frente a árvores
UNICEF/BRZ/Rhaylson Souza
22 dezembro 2020

“Eu tenho renda só na época das frutas. Passou a época do açaí, não tenho mais renda”, conta Luzenildo Apiaka. Ele é parte da tribo Apiaka, casado com uma indígena munduruku, e vivem na aldeia Muiussusao, no Pará. O cultivo e a venda do açaí, fruta nativa, que são limitados apenas a algumas épocas do ano, é uma das fontes de renda de muitos moradores da aldeia, que se veem em situações como a de Luzenildo. Para ajudar famílias vulneráveis durante a pandemia e mitigar os impactos da Covid-19, o UNICEF, em parceria com a Usina Hidrelétrica (UHE) Teles Pires, realizou doações de 386 kits de higiene e cestas básicas no município de Jacareacanga, incluindo a aldeia Muiussusao, que fica a 30 km da sede do município, e outras aldeias mais distantes.

Além do açaí, outra fonte de renda dos indígenas mundurukus vem da produção de farinha de mandioca. O processo é feito manualmente, começa desde arrancar a planta, descascá-la, ralá-la, até levá-la para a prensa. Homens e mulheres participam da atividade, dividindo o trabalho. Em seguida, a farinha passa para o processo de peneirar, enquanto os homens partem a lenha e as mulheres mexem no fogão de barro para cozinhar. Com tudo pronto, o produto é vendido. Mas, apesar de todo o trabalho, o valor muitas vezes não garante o sustento.

“Na situação aqui da aldeia, ficamos dependendo muito das coisas que, às vezes, a gente precisa”, explica Luzenildo. Por isso, para ele, receber as cestas básicas e os kits de higiene do UNICEF e da Hidrelétrica Teles Pires foi essencial. “Isso é uma ajuda que a gente está recebendo, eu agradeço muito a Deus e a eles”, completa.

um faixa sobre como lavar as mãos está estendida na frente de algumas casas
UNICEF/BRZ/Rhaylson Souza

Além de Jacareacanga, kits de higiene e cestas básicas foram distribuídos para famílias em outros três municípios do Pará: Breves, Marabá e Portel. No total, foram 1.544 famílias beneficiadas, sendo 386 por cidade. As doações foram sendo entregues junto com materiais educativos e informativos sobre prevenção ao coronavírus, incluindo faixas como essa na foto acima, orientando sobre saúde física e mental.

Desenvolvendo trilhas de sucesso
Além das doações, a parceria entre UNICEF e Teles Pires tem como foco o empoderamento de adolescentes, por meio de atividades formativas. Gusttavo Silva, de 18 anos, mora em Jacareacanga há dois anos e é um dos participantes desse projeto.

um adolescente está parando na frente de um banner da prefeitura. Ele usa máscara.
UNICEF/BRZ/Rhaylson Souza

Nascido em Apuí, no Amazonas, o jovem enfrentou uma resistência inicial ao se mudar de cidade, e, quando chegou, sentia falta da socialização que tinha em sua terra natal. Mas, pouco a pouco, ele foi percebendo que poderia se expressar em sua nova morada. “No início, eu era contra [a mudança], mas depois que eu descobri que Jacareacanga tem oportunidade para jovens, não quis mais voltar”, diz.

Uma dessas oportunidades é justamente a iniciativa “Trilhas Formativas – Ativando potências de adolescentes protagonistas em tempos da Covid-19”, realizada pelo UNICEF em parceria com a Teles Pires. Gusttavo, que sempre foi um jovem envolvido em diversos projetos, buscando saber mais sobre temas variados, assim que ouviu sobre uma nova oportunidade de formação no município, correu para participar. “Dizem que o jovem é o futuro do Brasil. E se somos o futuro, precisamos de visibilidade, oportunidade e reconhecimento”, explica.

Nos quatro municípios onde ocorreram as doações da Teles Pires, adolescentes em situação de vulnerabilidade entre 13 e 18 anos puderam participar de uma série de encontros online que foram realizados entre os dias 17 e 30 de novembro. Ao todo, 160 adolescentes, sendo 30 de cada município, além de 40 de Belém, dialogaram sobre temas como identidade e projeto de vida, autocuidado, saúde mental, proteção de adolescentes em tempos de pandemia e participação e protagonismo de adolescentes.

Para Gusttavo, o objetivo de desenvolver competências, fortalecendo a participação jovem e seu protagonismo, foi alcançado. “Está sendo uma experiência totalmente maravilhosa pra mim, porque eu estou podendo me expressar, dizer o que sinto, conversar com outras pessoas, fazer novas amizades”, conta. “Por meio dessa experiência, estou obtendo mais autoestima, confiança. Estou definitivamente só ganhando por todas as ações que UNICEF e Teles Pires vêm oferecendo”, completa.

grupo de jovens posa para foto em cima de escultura que diz "eu amo jacareacanga"
UNICEF/BRZ/Rhaylson Souza