“A gente quer democratizar o acesso à água”
Com o Chama na Solução – Mudanças Climáticas, Vinícius dos Santos, 21 anos, de São Paulo, quer promover o debate social e climático por todo o Brasil

Vinícius dos Santos tem 21 anos e, há três meses, se mudou do território da Cidade Tiradentes, na Zona Leste da cidade de São Paulo, para viver mais próximo da Universidade Federal do ABC, no município vizinho São Bernardo do Campo, onde estuda Ciências Humanas e é ingressante em Economia. O objetivo da mudança foi otimizar sua rotina para ter mais tempo para empregar parte do conhecimento que vem adquirindo na faculdade e nos movimentos sociais na transformação de desafios ambientais locais e, quem sabe, globais.
O jovem relembra que começou a pensar sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas de forma mais ativa em 2019 quando entrou para a Juventude Fogo no Pavio, articulação do Movimento de Trabalhadores Sem-Teto. Hoje, ele é coordenador estadual da frente e integra também o setor de horta. “Não é possível exercer a cidadania em uma cidade, em um país ou em um mundo onde não se leve a sério as questões ambientais”, afirma.
As vivências de Vinícius na temática das mudanças climáticas também englobam uma iniciativa gerida na própria Cidade Tiradentes: as hortas agroecológicas. Segundo ele, nas hortas agroecológicas, o cultivo é baseado em uma relação saudável com a terra, sem agrotóxicos e pautada pelas questões sociais. “Não podemos chegar e apenas implementar um projeto. Devemos também iniciar um debate e pensamento crítico sobre as questões climáticas e sociais”.
Como todas essas experiências, a chance de Vinícius trazer mais uma contribuição ao debate veio quando amigos compartilharam com ele o edital do Chama da Solução – Mudanças Climáticas, iniciativa do UNICEF, em parceria de implementação com a organização da sociedade civil Viração Educomunicação. A ação teve como objetivo chamar adolescentes e jovens para que pensassem saídas criativas para os problemas dos seus territórios que também dialogassem com questões globais. Adolescentes e jovens de 14 a 24 anos, de diferentes localidades do estado de São Paulo, foram convidados a desenvolver soluções para problemas locais sobre os principais desafios gerados pelas mudanças climáticas e que pudessem ser reproduzidas globalmente.
Com isso, Vinícius viu a oportunidade de promover transformações mais elaboradas em uma ocupação em Guarulhos, município da Região Metropolitana de São Paulo. Rapidamente, reuniu-se com outros colegas que já atuavam nas hortas agroecológicas para a elaboração de uma proposta que unisse soluções de cidadania e de questões sanitárias e climáticas. Assim, nasceu o Coletivo Quebrada Agroecológica, que propôs a instalação de cisternas em uma cozinha de assentamento de moradias, possibilitando o abastecimento de hortas e o acesso à água e à comida para mais de 200 pessoas.
De acordo com o jovem, elaborar a solução de forma que fosse possível colocá-la no mundo não foi tarefa fácil, mas necessária, afinal o território escolhido para implementação do projeto enfrenta diversos desafios devido à escassez de água, e a instalação das cisternas é uma solução temporária, já que o direito à água deve ser garantido de maneira ampla. “Não é o ideal que sejam cisternas, mas, ao mesmo tempo, é muito importante que existam, pelo menos, cisternas lá”.
Vinícius acredita que um caminho para cultivar um modo de vida que não agrave a crise climática é aprender com os povos tradicionais sobre soluções sustentáveis, já que cultivam uma relação positiva com a natureza. Durante a etapa de bootcamp do projeto, ele e outros colegas também tiveram a oportunidade de participar de um dia de vivências com povos indígenas em Ubatuba, município do Litoral Norte de São Paulo. “Foi memorável ter convivido o dia inteiro com eles. A gente pôde lidar mais diretamente com as pessoas que de fato têm uma cultura de proteção ambiental e climática”.
Atualmente, contemplado com um capital semente na etapa global do Chama na Solução, o Coletivo Quebrada Ecológica tem trabalhado no detalhamento do orçamento necessário para a expansão das cisternas para territórios de todo o Brasil que enfrentam a escassez de água. O grupo mantém um canal de contato aberto para tirar dúvidas dos interessados em aprender o processo e instalar as cisternas na própria comunidade: quebradaagreco@gmail.com.
A proposta é formar pessoas dos locais mais distantes de São Paulo de maneira online para que elas mesmas executem a instalação das cisternas. Para as localidades mais próximas de Guarulhos, Vinícius vislumbra a possibilidade de ensinar o passo a passo da incorporação do sistema de perto. “Se der para estar presente fisicamente, melhor ainda. O que a gente quer, desde o início, é democratizar o acesso à água e ao conhecimento”.