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Uma mulher morre a cada dois minutos devido à gravidez ou ao parto, segundo agências da ONU

Novos dados mostram grandes retrocessos para a saúde materna em muitas partes do mundo, destacando grandes disparidades no acesso à saúde

23 fevereiro 2023
Foto mostra uma jovem deitada em uma cama hospitalar segurando um bebê recém-nascido nos braços.
UNICEF/UN0541828/Satu
Jahan, de 18 anos, deu à luz seu primeiro bebê com o apoio de um centro de saúde primária do UNICEF nos campos de refugiados rohingyas em Bangladesh.

Genebra/Nova Iorque/Washington, 23 de fevereiro de 2023 – A cada dois minutos, uma mulher morre durante a gravidez ou o parto, de acordo com as últimas estimativas divulgadas em um relatório das agências das Nações Unidas hoje. Esse relatório, Tendências na mortalidade materna (Trends in maternal mortalitydisponível somente em inglês), revela retrocessos alarmantes para a saúde das mulheres nos últimos anos, uma vez que as mortes maternas aumentaram ou estagnaram em quase todas as regiões do mundo.

"Embora a gravidez deva ser um momento de imensa esperança e uma experiência positiva para todas as mulheres, tragicamente ainda é uma experiência chocantemente perigosa para milhões de pessoas em todo o mundo que não têm acesso a cuidados de saúde respeitosos e de alta qualidade", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). "Essas novas estatísticas revelam a necessidade urgente de se garantir que todas as mulheres e meninas tenham acesso a serviços de saúde críticos antes, durante e após o parto, e que possam exercer plenamente seus direitos reprodutivos".

O relatório – que rastreia as mortes maternas nacional, regional e globalmente de 2000 a 2020 – mostra que houve uma estimativa de 287 mil mortes maternas em todo o mundo em 2020. Isso marca apenas uma ligeira diminuição das 309 mil mortes em 2016, quando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU entraram em vigor. Embora o relatório apresente algum progresso significativo na redução das mortes maternas entre 2000 e 2015, os avanços estancaram em grande medida, ou, em alguns casos, até retrocederam a partir desse ponto.

Em duas das oito regiões da ONU – Europa e América do Norte e América Latina e Caribe –, a taxa de mortalidade materna aumentou entre 2016 e 2020, 17% e 15%, respectivamente. Em outros lugares, a taxa estagnou. O relatório observa, no entanto, que o progresso é possível. Por exemplo, duas regiões – Austrália e Nova Zelândia e Ásia Central e Meridional – experimentaram declínios significativos (em 35% e 16%, respectivamente) em suas taxas de mortalidade materna durante o mesmo período, assim como 31 países em todo o mundo.

"Para milhões de famílias, o milagre do parto é prejudicado pela tragédia das mortes maternas", disse a diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell. "Nenhuma mãe deveria temer por sua vida ao trazer um bebê ao mundo, especialmente quando existem conhecimentos e ferramentas para tratar complicações comuns. A equidade na saúde oferece a todas as mães, não importa quem sejam ou onde estejam, uma chance justa de um parto seguro e um futuro saudável com sua família".

Em números totais, as mortes maternas continuam amplamente concentradas nas partes mais pobres do mundo e em países afetados por conflitos. Em 2020, cerca de 70% de todas as mortes maternas ocorreram na África ao sul do Saara. Em nove países que enfrentam graves crises humanitárias, as taxas de mortalidade materna foram mais que o dobro da média mundial (551 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos, em comparação com 223 globalmente).

"Este relatório fornece mais um lembrete da necessidade urgente de dobrar nosso compromisso com a saúde das mulheres e adolescentes", disse Juan Pablo Uribe, diretor global de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial e diretor do Mecanismo de Financiamento Global. "Com ação imediata, mais investimentos em cuidados primários de saúde e sistemas de saúde mais fortes e resilientes, podemos salvar vidas, melhorar a saúde e o bem-estar e promover os direitos e oportunidades para mulheres e adolescentes".

Sangramento grave, pressão alta, infecções relacionadas à gravidez, complicações de aborto inseguro e condições subjacentes que podem ser agravadas pela gravidez (como HIV/aids e malária) são as principais causas de mortes maternas. Tudo isso é amplamente evitável e tratável com acesso a cuidados de saúde respeitosos e de alta qualidade.

A atenção primária à saúde centrada na comunidade pode atender às necessidades de mulheres, crianças e adolescentes e permitir o acesso equitativo a serviços críticos, como partos assistidos e cuidados pré-natais e pós-natais, vacinação infantil, nutrição e planejamento familiar. No entanto, o subfinanciamento dos sistemas de atenção primária à saúde, a falta de profissionais de saúde treinados e a precariedade das cadeias de abastecimento de produtos médicos estão ameaçando o progresso.

Aproximadamente um terço das mulheres não faz nem quatro dos oito exames pré-natais recomendados ou recebe cuidados pós-natais essenciais, enquanto cerca de 270 milhões de mulheres não têm acesso a métodos modernos de planejamento familiar. Exercer controle sobre sua saúde reprodutiva – particularmente decisões sobre se e quando ter filhos – é fundamental para garantir que as mulheres possam planejar e espaçar a gravidez e proteger sua saúde. As desigualdades relacionadas a renda, educação, raça ou etnia aumentam ainda mais os riscos para mulheres grávidas marginalizadas, que têm menos acesso a cuidados essenciais de maternidade, mas têm maior probabilidade de apresentar problemas de saúde subjacentes durante a gravidez.

"É inaceitável que tantas mulheres continuem morrendo desnecessariamente durante a gravidez e o parto. Mais de 280 mil mortes em um único ano são inconcebíveis", disse a diretora executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Natalia Kanem. "Podemos e devemos fazer melhor investindo urgentemente em planejamento familiar e suprindo a escassez global de 900 mil parteiras para que todas as mulheres possam receber os cuidados vitais de que precisam. Temos as ferramentas, o conhecimento e os recursos para acabar com as mortes maternas evitáveis; do que precisamos agora é vontade política".

A pandemia de covid-19 pode ter retardado ainda mais o progresso na saúde materna. Observando que a série de dados atual termina em 2020, mais dados serão necessários para mostrar os verdadeiros impactos da pandemia nas mortes maternas. No entanto, as infecções por covid-19 podem aumentar os riscos durante a gravidez, portanto, os países devem tomar medidas para garantir que as mulheres grávidas e as que planejam engravidar tenham acesso a vacinas contra a covid-19 e cuidados pré-natais eficazes.

"Reduzir a mortalidade materna continua sendo um dos desafios globais de saúde mais prementes", disse John Wilmoth, diretor da Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas. "Acabar com as mortes maternas evitáveis e fornecer acesso universal a cuidados de saúde materna de qualidade requer esforços nacionais e internacionais sustentados e compromissos inabaláveis, especialmente para as populações mais vulneráveis. É nossa responsabilidade coletiva garantir que todas as mães, em todos os lugares, sobrevivam ao parto, para que elas e seus filhos e filhas possam prosperar".

O relatório revela que o mundo deve acelerar significativamente o progresso para atingir as metas globais de redução das mortes maternas, ou então colocar em risco a vida de mais de 1 milhão de mulheres até 2030.

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Notas para os editores

O relatório está disponível aqui.

Dados-chave podem ser acessados aqui.

Conteúdo multimídia disponível aqui.

Sobre o relatório
O relatório foi produzido pela OMS em nome do Grupo Interinstitucional de Estimativa da Mortalidade Materna das Nações Unidas, composto pela OMS, o UNICEF, o UNFPA, o Grupo do Banco Mundial e a Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas. Usa dados nacionais para estimar níveis e tendências de mortalidade materna de 2000 a 2020. Os dados dessa nova publicação substituem todas as estimativas anteriores publicadas pela OMS e pelo Grupo Interinstitucional de Estimativa da Mortalidade Materna das Nações Unidas.

Sobre os dados
A meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para mortes maternas é de uma taxa global de mortalidade materna (MMR) de menos de 70 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos até 2030. A MMR global em 2020 foi estimada em 223 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos, abaixo das 227 em 2015 e das 339 em 2000. Durante a era dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, de 2000 a 2015, a taxa anual global de redução foi de 2,7%, mas caiu para níveis insignificantes durante os primeiros cinco anos da era dos ODS (de 2016 a 2020).

O relatório inclui dados desagregados pelas seguintes regiões, usados para relatórios dos ODS: Ásia Central e Ásia Meridional; África ao sul do Saara; América do Norte e Europa; América Latina e Caribe; Ásia Ocidental e Norte da África; Austrália e Nova Zelândia; Ásia Oriental e Sudeste Asiático; e Oceania, excluindo Austrália e Nova Zelândia.

Uma morte materna é definida como uma morte devido a complicações relacionadas com a gravidez ou parto, ocorrendo quando uma mulher está grávida, ou dentro de seis semanas após o término da gravidez.

Contatos para a imprensa

Elisa Meirelles Reis
Oficial de Comunicação
UNICEF Brasil
Telefone: (61) 98166 1649
Luana Ribeiro Piotto
Oficial de Comunicação
UNICEF Brasil

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