Quatro em cada dez famílias afirmam que as escolas já retomaram atividades presenciais, aponta UNICEF
Pesquisa do UNICEF, realizada pelo Ipec, mostra também que caiu o percentual de brasileiros que acham importante manter escolas fechadas. Ao mesmo tempo, muitas famílias ainda têm receio de enviar os filhos às aulas presenciais
Brasília, 30 de junho de 2021 – Após mais de um ano de pandemia da Covid-19, as escolas brasileiras começam a retomar as atividades presenciais. É o que revela a terceira rodada da pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, lançada pelo UNICEF nesta quarta-feira. Realizada pelo Ipec, a pesquisa mostra que, em maio, 41% das pessoas que residem com crianças ou adolescentes disseram que as escolas voltaram a oferecer atividades presenciais.
Entre quem tem filhos em escolas que já reabriram, metade (48%) diz que a criança ou o adolescente voltou às aulas presenciais. Com isso, do total dos entrevistados que residem com crianças ou adolescentes, 20% afirmam que elas e eles estão participando das atividades escolares presenciais.
A pesquisa revela, também, que 93% das escolas mantiveram atividades remotas. Os principais canais de acesso dos estudantes às atividades são o WhatsApp (71%) e a distribuição de material impresso (69%). O celular tem sido o principal dispositivo utilizado, em especial entre as famílias mais pobres. Segundo a pesquisa, nas famílias com renda de até um salário mínimo, 65% dos estudantes usam exclusivamente celular para as atividades escolares – sendo que 29% usam somente o celular de outra pessoa da família.
A pesquisa destaca que a falta de acesso à internet e a falta de equipamento adequado estão entre as principais dificuldades para realizar atividades escolares remotas, em especial nas famílias mais pobres.
“Apesar do esforço de escolas e educadores, estudantes em situação de maior vulnerabilidade têm menos acesso à internet e ao computador, o que limita as suas oportunidades de estudar e aprender adequadamente em casa. Por isso, muitos deles estão cada vez mais excluídos das atividades escolares remotas. É urgente reabrir as escolas em segurança e ir atrás de cada menina e menino que não conseguiu se manter aprendendo na pandemia, para prevenir danos irreversíveis a uma geração inteira de crianças e adolescentes pobres”, defende Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.
Cai percentual de brasileiros que querem manter escolas fechadas
No início da pandemia, em julho de 2020, 82% dos brasileiros afirmavam que era muito importante manter as escolas fechadas como forma de prevenir a Covid-19. Com o passar dos meses, essa percepção foi mudando. Em novembro, eram 71%. Agora, em maio de 2021, são 59%.
No entanto, as famílias que estão com filhos apenas em atividades remotas demonstram receio com o retorno. Segundo a pesquisa, 23% afirmam que a criança ou o adolescente voltará quando a escola reabrir, e 74% dizem que o retorno só ocorrerá quando alguém da família considerar que não há risco de contaminação.
“Por isso, é essencial que o processo de reabertura seja realizado em diálogo tanto com as famílias, como com as e os profissionais da educação, estudantes e toda a comunidade escolar. É importante envolver todos na revisão e implementação dos protocolos de prevenção da Covid-19 e levar informação para que cada um se sinta seguro para retornar”, diz Florence.
A pesquisa mostra, também, que as medidas individuais de prevenção à pandemia se mantiveram em alta. Entre os entrevistados, 81% afirmam que quarentena e isolamento social são medidas muito importantes para conter a Covid-19 – em julho de 2020, eram 84% e em novembro, 81%. Além disso, 94% reforçam a importância do uso de máscaras – em novembro, eram 91%.
Pandemia reduz a renda das famílias mais pobres e amplia a desigualdade
Em maio de 2021, 56% dos brasileiros declararam que o rendimento de seu domicílio diminuiu desde o início da pandemia, o que representa cerca de 89 milhões de brasileiros. Entre as pessoas que residem com crianças ou adolescentes, 64% disseram que a renda da família diminuiu. As duas taxas são semelhantes às apresentadas na edição anterior da pesquisa, em novembro de 2020.
Já entre os mais pobres, a situação se agravou do final de 2020 para o momento atual. Entre novembro de 2020 e maio de 2021, aumentou de 69% para 80% o percentual de famílias com até um salário mínimo que disseram que sua renda diminuiu desde o início da pandemia. No outro extremo, entre aqueles com renda de mais de dez salários mínimos, o percentual de quem viu a renda diminuir permaneceu estável.
“A pandemia ampliou as desigualdades no Brasil, com impactos preocupantes nas famílias mais pobres, e nas crianças e nos adolescentes que fazem parte delas. Mesmo com o auxílio emergencial, que beneficiou milhões de famílias, a situação prolongada de vulnerabilidade pode ter consequências irreversíveis, principalmente em relação à insegurança alimentar das crianças. É fundamental continuar investindo e reforçar as políticas de transferência de renda, oportunidades de emprego para adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade, reabertura segura das escolas e outras políticas sociais voltadas a essa parcela da população”, defende Florence.
Insegurança alimentar continua sendo um sinal de alerta
Desde o início da pandemia, até maio de 2021, 17% dos brasileiros deixaram de comer em algum momento porque não havia dinheiro para comprar mais comida. Isso equivale a 27 milhões de brasileiros. Em novembro de 2020, eram 13% – o que é considerado estabilidade de acordo com as características da pesquisa. O impacto foi mais grave entre as famílias de classe DE, com 33%.
A situação impacta diretamente a infância e a adolescência. Segundo a pesquisa, 13% dos entrevistados que moram com pessoas menores de 18 anos declararam que as crianças e os adolescentes do domicílio deixaram de comer por falta de dinheiro para comprar alimentos. Além disso, metade das famílias com crianças e adolescentes (48%) afirma não ter tido acesso à merenda escolar enquanto as escolas estiveram fechadas.
“A insegurança alimentar tem sido um problema desde o início da pandemia. É um alerta importante para os impactos profundos que pode ter na saúde de todos, em especial crianças e adolescentes. Uma família que não consegue se alimentar adequadamente está vivendo na mais absoluta privação de direitos. O fechamento prologando das escolas contribuiu ao agravamento dessa situação, muitas crianças e muitos adolescentes dependem da merenda escolar. É fundamental continuar e ampliar as políticas públicas direcionadas à parcela mais pobre da população, expandindo os programas de proteção social para incluir essas famílias que, muitas vezes, vivem em situações de tamanha exclusão que não conseguem ter acesso a programas sociais de distribuição de renda”, diz Florence.
Impacto na saúde mental
Por fim, a pesquisa perguntou aos adultos como a pandemia está impactando os adolescentes que vivem em seus domicílios. Entre os entrevistados, 56% disseram que algum adolescente da casa apresentou um ou mais sintomas relacionados à saúde mental. Entre os principais problemas destacados estão mudanças repentinas de humor e irritabilidade (29%); alteração no sono como insônia ou excesso de sono (28%); diminuição do interesse em atividades rotineiras (28%); e preocupações exageradas com o futuro (26%).
Sobre a pesquisa
Os dados fazem parte da terceira etapa da pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, realizada pelo Ipec para o UNICEF. Foram realizadas 1.516 entrevistas em cada uma das três rodadas, organizadas de modo a ser representativas da população-alvo do estudo. As entrevistas dessa rodada foram realizadas por telefone de 10 a 25 de maio de 2021. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Mais informações
Veja também as edições de julho e novembro de 2020.
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