A alimentação das crianças pequenas não apresentou nenhuma melhora na última década e "pode ficar muito pior" com a covid-19
Durante o período crucial em que as crianças começam a transição para alimentos sólidos, apenas uma em cada três recebe uma alimentação diversificada o suficiente para crescer bem

Nova Iorque, 22 de setembro de 2021 – Crianças com menos de 2 anos de idade não estão recebendo os alimentos ou nutrientes de que precisam para se desenvolver e crescer bem, levando a danos irreversíveis no desenvolvimento, de acordo com um novo relatório divulgado hoje pelo UNICEF.
Alimentação fadada ao fracasso? A crise na alimentação de crianças nos primeiros anos da vida – divulgado antes da Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU nesta semana – alerta que o aumento da pobreza, a desigualdade, os conflitos, os desastres relacionados ao clima e as emergências de saúde, como a pandemia de covid-19, estão contribuindo para uma crise nutricional contínua entre os mais jovens do mundo, uma crise que deu poucos sinais de melhora nos últimos dez anos.
“As conclusões do relatório são claras: embora estejam em um estágio crítico de desenvolvimento, milhões de crianças pequenas não estão recebendo nutrição adequada”, disse a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore. “A ingestão nutricional precária nos primeiros dois anos de vida pode prejudicar irreversivelmente o corpo e o cérebro das crianças em rápido crescimento, afetando sua escolaridade, perspectivas de emprego e futuro. Embora já soubéssemos disso há anos, houve pouco progresso no fornecimento do tipo certo de alimentos nutritivos e seguros para os jovens. Na verdade, as contínuas interrupções relacionadas à covid-19 podem tornar a situação muito pior”.
Em uma análise de 91 países, o relatório conclui que apenas metade das crianças de 6 a 23 meses está recebendo o número mínimo recomendado de refeições por dia, enquanto apenas um terço consome o número mínimo de grupos de alimentos de que precisa para se desenvolver. Uma análise mais aprofundada de 50 países com dados de tendências disponíveis revela que esses padrões inadequados de alimentação persistiram ao longo da última década.
Como a covid-19 continua interrompendo serviços essenciais e levando mais famílias à pobreza, o relatório conclui que a pandemia está afetando a forma como as famílias alimentam suas crianças. Por exemplo, uma pesquisa realizada entre domicílios urbanos em Jacarta, na Indonésia, descobriu que metade das famílias foi forçada a reduzir as compras de alimentos nutritivos. Como resultado, a porcentagem de crianças que consumiram o número mínimo recomendado de grupos de alimentos caiu em um terço em 2020, em comparação com 2018.
As crianças carregam as cicatrizes de práticas alimentares inadequadas para o resto da vida. Uma ingestão insuficiente de nutrientes encontrados em vegetais, frutas, ovos, peixes e carne necessários para sustentar o crescimento em uma idade precoce coloca as crianças em risco de desenvolvimento precário do cérebro, aprendizagem fraca, baixa imunidade, aumento de infecções e, até, morte.
Crianças com menos de 2 anos de idade são mais vulneráveis a todas as formas de má nutrição – desnutrição crônica, desnutrição aguda, deficiência de micronutrientes e sobrepeso e obesidade – como resultado de alimentação inadequada, devido a sua maior necessidade de nutrientes essenciais por quilograma de peso corporal do que em qualquer outra época da vida.
Globalmente, o UNICEF estima que mais da metade das crianças menores de 5 anos com desnutrição aguda – cerca de 23 milhões de crianças – tem menos de 2 anos de idade, enquanto a prevalência desnutrição crônica aumenta rapidamente entre 6 meses e 2 anos, uma vez que a alimentação das crianças não atende às suas crescentes necessidades nutricionais.
De acordo com o relatório, crianças de 6 a 23 meses que vivem em áreas rurais ou de famílias mais pobres têm uma probabilidade significativamente maior de receber uma alimentação inadequada em comparação com seus pares urbanos ou mais ricos. Em 2020, por exemplo, a proporção de crianças alimentadas com o número mínimo de grupos de alimentos recomendados era duas vezes maior nas áreas urbanas (39%) do que nas rurais (23%).
Para fornecer alimentação nutritiva, segura e acessível a todas as crianças, o relatório pede que governos, doadores, organizações da sociedade civil e agentes de desenvolvimento trabalhem lado a lado para transformar os sistemas de alimentação, saúde e proteção social, liderando ações-chave, que incluam:
- Aumentar a disponibilidade e acessibilidade a alimentos nutritivos – incluindo frutas, vegetais, ovos, peixes, carnes e alimentos fortificados – incentivando sua produção, distribuição e varejo.
- Implementar normas e legislação nacionais para proteger as crianças de alimentos e bebidas não saudáveis, processados e ultraprocessados, e acabar com as práticas de marketing prejudiciais voltadas para crianças e famílias.
- Aumentar a aceitação de alimentos nutritivos e seguros por meio de vários canais de comunicação, incluindo mídia digital, para alcançar pais e crianças com informações coerentes e fáceis de entender.
O relatório observa que o progresso é possível com investimento. Na América Latina e no Caribe, por exemplo, quase dois terços (62%) das crianças de 6 a 23 meses recebem uma alimentação minimamente diversificada, enquanto, na África Oriental e Meridional (24%) e na África Ocidental e Central (21%) e na Ásia Meridional (19%), menos de uma em cada quatro crianças está recebendo uma alimentação minimamente diversificada. Em todas as regiões, são necessários investimentos para garantir que todas as crianças se beneficiem da alimentação diversificada de que precisam para prevenir todas as formas de desnutrição e crescer, se desenvolver e aprender em todo o seu potencial.
“As crianças não podem sobreviver ou se desenvolver apenas com calorias”, disse Fore. “Somente unindo forças com governos, setor privado, sociedade civil, parceiros de desenvolvimento e humanitários e famílias podemos transformar os sistemas alimentares e desbloquear alimentação nutritiva, segura e acessível para todas as crianças. A próxima Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU é uma oportunidade importante para definir o cenário para sistemas alimentares globais que atendam às necessidades de todas as crianças”.
###
>> Leia o resumo executivo em português.
>> Leia o relatório completo – disponível somente em inglês.
>> Conteúdo multimídia disponível para download aqui.
Notas para editores
Os dados quantitativos sobre a situação atual, tendências e desigualdades da alimentação de crianças pequenas apresentados neste relatório são derivados dos bancos de dados globais do UNICEF, que incluem apenas dados internacionalmente comparáveis e estatisticamente sólidos. Os bancos de dados globais do UNICEF incluem dados de 607 pesquisas representativas nacionalmente realizadas em 135 países e territórios, representando mais de 90% de todas as crianças menores de 2 anos no mundo todo.
Sobre a Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, anunciou a Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU em outubro de 2020, como parte da Década de Ação para o Alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. O objetivo da cúpula é avançar em o cumprimento de todos os 17 ODS, aproveitando a relação entre os sistemas alimentares e os diversos desafios globais, como a fome, as mudanças climáticas, a pobreza e a desigualdade. Para obter mais informações sobre a Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU de 2021, visite https://www.un.org/en/food-systems-summit/about
###
Glossário
Tipos de desnutrição na primeira infância
Desnutrição crônica se refere ao diagnóstico de uma criança muito baixa para sua idade. Esse atraso de crescimento é resultado de desnutrição desde o útero, ingestão insuficiente de nutrientes na primeira infância e/ou infecção e doenças.
Desnutrição aguda ou baixo peso para altura se refere ao diagnóstico de uma criança muito magra para sua altura. Esse quadro ocorre quando crianças perdem muito peso ou não conseguem ganhar peso de modo suficiente, muitas vezes, devido a um período recente de ingestão alimentar inadequada ou por causa de doença.
Deficiências de micronutrientes ocorrem quando as crianças não recebem as quantidades adequadas de vitaminas e minerais essenciais – conhecidos como micronutrientes – de que seus corpos precisam para crescer e se desenvolver em seu pleno potencial.
Sobrepeso ou excesso de peso se refere ao diagnóstico de uma criança com peso acima da média para a sua altura. Ocorre quando a ingestão calórica das crianças, com alimentos e bebidas, excede suas necessidades energéticas.
Contatos para a imprensa
Sobre o UNICEF
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) trabalha em alguns dos lugares mais difíceis do planeta, para alcançar as crianças mais desfavorecidas do mundo. Em 190 países e territórios, o UNICEF trabalha para cada criança, em todos os lugares, para construir um mundo melhor para todos.
Acompanhe nossas ações no Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, LinkedIn e TikTok.
Você também pode ajudar o UNICEF em suas ações. Faça uma doação agora.