Você sabia que o Recife é uma das cidades no mundo mais vulneráveis às mudanças climáticas? Venha com a gente entender mais sobre como isso se interliga com os oceanos e a desertificação.
Mas, antes, uma introdução: se olharmos no calendário do mês de junho, veremos diversas datas comemorativas relacionadas à proteção do meio ambiente, como já falamos no texto do mês passado, entre elas, o dia 8 de junho, e você sabe o que é comemorado nesse dia? O Dia Mundial dos Oceanos.
Os oceanos, divididos em cinco, Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico e o Antártico – este último foi reconhecido oficialmente como oceano pelo comitê de políticas de mapas da National Geographic há dois anos –, compõem praticamente 70% do planeta Terra. Eles fornecem mais da metade do oxigênio que respiramos, regulam o clima do planeta, além de fornecerem recursos energéticos e alimentares.
Mas a pergunta principal a ser feita é: por que comemorar o Dia Mundial dos Oceanos?
Nós, seres humanos, somos tão dependentes dos oceanos quanto os animais que o habitam. E mesmo com isso, estamos próximos de esgotar o seu recurso de regeneração. Nossas ações têm influenciado no aquecimento global, que acaba por impactar os oceanos, exemplo disso é a aceleração do derretimentos das calotas polares que prejudicam os animais que vivem nesses habitats e elevam o nível dos oceanos, além da sobrepesca e a poluição, como o lançamento de esgoto e plásticos nos oceanos.
Por isso, em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, foi criada essa data comemorativa. E diante do agravante dos impactos causados nos oceanos entre o período de 2021 até 2030, a ONU declarou esta como sendo a “Década dos Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável”, com o objetivo de mobilizar políticos, cientistas, empresas e a sociedade civil para que promovam a conservação dos recursos naturais do globo.
Segundo um artigo publicado pela BBC, 20% dos lixos encontrados nas praias são derivados dos oceanos, gerados por meio de atividades pesqueiras e turismo – como cruzeiros e mergulhos. Além disso, com o aquecimento global, o nível dos mares tem aumentado e cidades como o Recife encontram-se vulneráveis a questões relacionadas a isso, como aumento de alagamentos, invasão do mar e desertificação de certas áreas.
E o que é desertificação?
De acordo com a Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas (1994), a desertificação é definida como um processo de degradação ambiental causada pelo manejo inadequado dos recursos naturais nos espaços áridos, semiáridos e subúmidos, que compromete a conservação ambiental, os serviços ambientais e os sistemas produtivos das áreas.
No território brasileiro, por exemplo, esse processo é resultado do uso inadequado dos recursos florestais, que influencia diretamente no percentual da matriz energética do País e, consequentemente, impacta nas práticas de manejo dos solos, das águas e da vegetação. Ou seja, tudo está interligado e influencia a nossa vida, mesmo que de forma imperceptível.
Por que o Recife é uma cidade vulnerável?
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontou que a capital pernambucana é a 16ª cidade mais ameaçada do mundo por alterações do meio ambiente! As causas dessas alterações são variadas, como a poluição, o aquecimento global, o descarte errado de resíduos sólidos, o uso excessivo de recursos ambientais, a superpopulação, o relevo plano, a rede de drenagem insuficiente da região, a proximidade das construções urbanas com a linha costeira, entre outras. Sendo a maioria delas ações antrópicas, ou seja, causadas pelos humanos.
As mudanças climáticas trazem diversos riscos para a cidade litorânea e a comunidade que vive nela, como o aumento do nível médio do mar, as inundações, os deslizamentos, o aumento de vetores de doenças transmissíveis, as ondas de calor e a desertificação. Os problemas são inúmeros e não se limitam apenas às praias, haverá problemas de transporte e esgoto também.
Isso é ainda mais complexo para áreas periféricas sem a infraestrutura necessária para garantir a segurança das comunidades mais vulneráveis – já que a desigualdade social do Recife é um fator preocupante –, especialmente para as crianças, que serão as mais afetadas no futuro.
Crise climática & crianças e adolescentes
A consciência em pequena escala sobre os oceanos, a situação alarmante do Recife e a desertificação, assim como todos os desastres ambientais provocados pelos humanos, possuem uma relação direta com as mudanças climáticas, e seus impactos são notórios em todas as comunidades, mas principalmente nas mais vulneráveis – como as periféricas e as mais jovens.
Dessa forma, as populações mais vulneráveis são as que mais sofrem com a crise climática, visto que o IPCC define vulnerabilidade como “o grau de suscetibilidade de um sistema aos efeitos adversos da mudança climática, ou sua incapacidade de administrar esses efeitos, incluindo variabilidade climática ou extremos”. Podemos concluir que a crise ambiental impacta mais as crianças e os adolescentes, que são os menos responsáveis por esse verdadeiro caos, mas terão de suportar o maior fardo.
Segundo o relatório “Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil”, lançado pelo UNICEF, 40 milhões de meninos e meninas já estão expostos a mais de um risco ambiental, reafirmando a forma como as mudanças climáticas estão comprometendo seus direitos fundamentais. Ao abordar a temática, precisamos refletir sobre o fato de as políticas públicas referentes ao meio ambiente não mencionarem as vulnerabilidades específicas desse grupo social, reforçando a necessidade de aumentar as discussões e propostas que os contemplem.
Ao referenciar o impacto dessa crise nas crianças e nos adolescentes, temos o Índice de Risco Climático, que busca analisar o efeito climático ao determinar a relação entre os perigos, a exposição e a vulnerabilidade. Por isso, quando falamos de “mudanças climáticas”, apontamos que o problema vai além do que imaginamos, está ligado à estrutura da nossa sociedade.
Como podemos mudar essa situação?
Mas nem tudo está perdido, algumas soluções para esse problema podem ser: melhorar o sistema de drenagem; garantir que áreas de várzeas cumpram o papel de barreira em ondas de cheias; e aumentar a permeabilidade do solo. Além disso, compartilhar sobre o atual estado dos oceanos, do Recife e da desertificação pode garantir a execução de medidas preventivas por políticos e cientistas da cidade e ajudar com a conscientização da população brasileira, pois a poluição – emissão de gás carbônico, descarte errado de plásticos, entre outros – afeta e altera o clima, mesmo morando a quilômetros de distância das cidades litorâneas.
Referências
- 8 de junho – Dia Mundial dos Oceanos
- Oceanos e mares | National Geographic
- Por que os oceanos importam tanto para a vida na Terra – BBC News Brasil
- 8 de Junho – Dia Mundial dos Oceanos – Sustentarea
- Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul – Dia Mundial dos Oceanos
- Um bilhão de crianças estão "extremamente expostas" aos impactos da crise climática – UNICEF
- Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil
- Entendendo sobre Desertificação: Conceitos, características, causas, consequências e soluções
- Os desastres brasileiros e suas relações com as mudanças climáticas | UNICEF Brasil
- Meio ambiente e mudanças climáticas
- A Convenção – UNCCD.
- Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas e Plano de Adaptação – Caderno de Anexos
- Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas do Recife – ICLEI
- Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas e Estratégia de Adaptação do Município do Recife – PE
- Novo estudo mede a vulnerabilidade de mudanças do clima em Recife e Fortaleza
- Mudança do clima impõe desafio de adaptação a Recife, a capital mais vulnerável do Brasil
- Iniciativa global da ONU reconhece compromisso climático do Recife
- Mar vai 'engolir' Recife? Entenda por que cidade é a capital brasileira mais ameaçada pelas mudanças climáticas | Pernambuco | G1
- Julho sem Plástico: o que é e para que serve esse movimento!