Ansiedade social

Subestimada ou frescura das novas gerações?

#tmjUNICEF
06 setembro 2023

Você talvez já tenha encontrado alguém que ficasse muito envergonhado em situações de socialização, ou que até se sentisse com mal-estar só em pensar em falar em público ou com as demais pessoas. Quem sabe você mesmo não tenha passado por essas situações ou ainda passe por elas. Contudo, é comum que, de acordo com o amadurecimento do indivíduo como ser social, cada um de nós comece a se desenvolver e a lidar com esse sentimento de ansiedade que as atividades sociais e a própria socialização podem causar de formas diferentes. Entretanto, há pessoas que sofrem muito com o sentimento ansioso, fazendo com que desenvolvam problemas sérios de comunicação, expressão e representação, afetando os relacionamentos interpessoais e afetando profundamente a sua autoestima, podendo se tornar o gatilho para o desenvolvimento de doenças e demais agravos à saúde e bem-estar.

Apesar de ser um assunto sério, com pouca importância e divulgação, o transtorno de ansiedade social (TAS) é tratado no senso-comum como uma inconveniência ou algo a ser tratado com menosprezo. Quando observado na perspectiva dentro da juventude, o TAS causa impactos severos, especialmente por se tratar de indivíduos que estão em processo de formação social. Assim, convidamos você a continuar lendo o nosso texto que contará com uma discussão sobre a ansiedade social em crianças e adolescentes como um problema silencioso.

O que é o transtorno de ansiedade social?

Popularmente conhecido como fobia social, o transtorno de ansiedade social (TAS) é quando o indivíduo evita situações de convívio social pelo receio de ser constantemente avaliado negativamente, vive com medo de ser julgado por todos a sua volta, mesmo em relação aos pequenos acontecimentos do dia. A vergonha e o medo estão sempre presentes no cotidiano da pessoa que tem essa condição, o que compromete muito sua vida em diversos aspectos. Contudo, vale ressaltar que a ansiedade é um sentimento normal presente em todos (em maior ou menor grau), sendo também essencial para a sobrevivência da espécie humana, mas, quando ela começa a se manifestar de forma exacerbada, é muito importante um cuidado especial, pois pode estar em um nível patológico, como é o caso da TAS, sendo, nesse caso, fundamental a intervenção profissional.

Além disso, é importante destacar que, por ser um transtorno pouco divulgado e discutido, muitas pessoas não têm um diagnóstico da doença, o que causa efeitos negativos que se manifestam ao longo da vida. Especialistas no assunto destacam os impactos que essa doença causa na vida escolar de crianças e adolescentes, uma vez que o constante medo de falar em público, o sintoma mais comum da doença, impede que esses jovens tenham uma vida social normal, ou, em casos mais extremos, impede-os de viver em ambientes que exijam essa socialização, como a escola.

Nesse sentido, é importante explicar que a relação da sociedade com o indivíduo é um fator determinante na ocorrência ou não da doença. Estudos apontam que a TAS é mais frequente entre mulheres, sendo importante observar a histórica opressão sofrida por essa camada da sociedade que, mesmo em graus mais brandos, pode contribuir para o desenvolvimento da doença.

Como identificar se uma criança ou um(a) adolescente sofre de TAS?

Antes de saber identificar se alguma criança ou algum(a) adolescente sofre com esse tipo de transtorno, é fundamental saber o que realmente ele é, pois é muito comum as pessoas confundirem fobia social, timidez e ansiedade generalizada. É válido salientar que, mesmo sendo tão parecidos, cada um desses transtornos é diferente e que é preciso o diagnóstico correto para poder ter um tratamento específico e eficaz.

A timidez, caracterizada pela dificuldade em mostrar suas emoções em situações relativamente novas e pela vergonha "excessiva", é um estado de acanhamento no qual o indivíduo tem receios em relação a situações sociais, o medo do que as pessoas vão achar, de errar, de ser o centro das atenções, e até conversar com alguém desconhecido o deixa muito envergonhado, fazendo-o “ficar mais na sua”. Na ansiedade generalizada, há a presença da preocupação excessiva e de difícil controle, que pode acarretar em evitar situações que trazem medo, expectativas e questionamentos.

Já a ansiedade social vai muito além da vergonha em situações sociais. A ansiedade social é o medo profundo de tudo o que se refere a interações sociais, desde uma apresentação na escola a uma refeição em um lugar público. Esse transtorno fala sobre a incapacidade de um indivíduo de lidar com ambientes sociais, fazendo-o evitá-los a todo custo. Sabendo disso, para identificar se uma criança ou um(a) adolescente sofre de TAS é importante ficar atento a alguns sinais:

  • Dificuldade em se comunicar com outras pessoas;
  • Medo de falar em público;
  • Receio em falar no telefone;
  • Medo de mostrar sua opinião sobre algum assunto;
  • Receio de comer na frente dos outros;
  • Receio de andar ou trabalhar na frente de outras pessoas;
  • Sofrimento ou ansiedade que abalam a rotina e qualidade de vida;
  • Medo de passar por constrangimentos.

Pandemia de covid-19

Segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde, quase 19 milhões de brasileiros vivem com algum grau patológico de ansiedade, o que equivale a 9,5% da população. Nesse contexto, vale ressaltar que, durante a pandemia, o nível desse problema na sociedade piorou, principalmente entre os mais jovens, os quais foram os mais afetados mentalmente no isolamento social: longe da escola, da faculdade, dos amigos e de qualquer ambiente que proporcionasse interação com pessoas da mesma faixa etária, o que impactou muito no seu desenvolvimento.

É notório que, mesmo após a flexibilização do isolamento e a retomada das atividades (graças às vacinas), esse momento pandêmico deixou graves sequelas e muitas crianças e muitos adolescentes desenvolveram fobia social, que precisaram de ajuda familiar e psicológica para lidar com esse problema que, infelizmente, é tão frequente no século XXI.

Como minimizar os impactos da doença no desenvolvimento socioemocional?

Como falamos anteriormente no texto, a ansiedade social causa impactos diretos no desenvolvimento socioemocional dessas crianças, desses adolescentes e jovens, impedindo-os de realizar tarefas simples do dia a dia ou de cumprir com atividades de cunho escolar, acadêmico ou social, de forma geral. O que acontece é que o constante nervosismo e mal-estar, principalmente devido ao desconforto com o público ao redor do indivíduo, faz com que ele se esquive dessas atividades de socialização, prejudicando-o em áreas importantes de sua vida, como, por exemplo, na formação de vínculos.

Dessa forma, vale a pena destacar que algumas medidas podem ser tomadas para minimizar os impactos dessa doença no desenvolvimento dessas pessoas, como:

  • Criar um ambiente seguro e acolhedor;
  • Estimular, de forma respeitosa e paciente, a participação dessas pessoas em atividades em equipe;
  • Respeitar o tempo e o processo individual dessas pessoas, sem a colocação de uma pressão exacerbada sobre elas;
  • Mostrar para essa pessoa que existem maneiras de driblar esse problema, e que ela não está sozinha;
  • Validar as angústias de crianças, jovens e adolescentes, para que sintam-se confortáveis para se expor, de maneira gradativa, ao público.

Mas, então, é frescura ou não?

NÃO! A ansiedade social é um problema sério, que afeta não somente jovens, crianças e adolescentes, mas também pessoas adultas e idosas. Além disso, esse é um transtorno que torna a vida dessas pessoas mais difícil, causando uma forte angústia e problemas que afetam todas as áreas de sua vida, e que, em crianças, jovens e adolescentes, afeta o seu desenvolvimento socioemocional, fazendo com que o processo de socialização desses indivíduos seja diretamente prejudicado.

É importante, nesses casos, o constante acompanhamento de profissionais psicossociais a fim de tratar o transtorno e buscar uma melhor qualidade de vida para o indivíduo. No entanto, além disso, as pessoas ao seu redor devem entender e ajudar no tratamento, como familiares e amigos, pois não é uma tarefa fácil viver com medos e vergonhas de modo frequente, por isso, é fundamental o apoio daqueles em quem o indivíduo mais confia para lidar com esse entrave.

Apesar de ser uma doença subjugada pela sociedade, ela deve ser levada a sério, e devemos nos comprometer a minimizar os prejuízos desse transtorno. Lembre-se sempre de que esse é um problema sério, e possui tratamento!

Repertório cultural:

Já assistiu à série Merlí? Caso ainda não, assista e foque sua atenção no personagem Iván Blasco, a fim de entender mais sobre como se sente uma pessoa com o transtorno de ansiedade social, sendo mencionado na série também como agorafobia, o medo de locais públicos ou com multidões.

Quem é Iván? Adolescente do ensino médio que se mantém recluso em sua casa por causa da ansiedade. Ele se sente decepcionado e completamente desconectado da sociedade, afasta-se da escola e de qualquer interação social, diminuindo sua rede de contato para sua mãe e, contra sua vontade, seu professor de filosofia, que vai ajudando o jovem aos poucos a se conectar consigo mesmo e com os outros, fazendo-o procurar ajuda e tratar seu transtorno.

Redação: Emylle Farias Valdevino, Erica Pereira da Silva, Rayssa Oliveira Carneiro
Revisão: Jonathan Casarim, Raphael Oliveira Sipriano

Blog escrito pelas voluntárias e pelos voluntários do #tmjUNICEF, o programa de voluntariado digital do UNICEF. São adolescentes e jovens de todo o Brasil que participam de formações sobre direitos de crianças e adolescentes, mudanças climáticas, saúde mental e combate às fake news e à desinformação.

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