Rastreio na comunidade ajuda a salvar vidas de crianças desnutridas no sul de Angola
Envolvimento de agentes comunitários é fundamental na identificação e acompanhamento das crianças desnutridas

Em Setembro de 2019, a pequena Kuleny deu entrada no Centro de saúde de Caculuvale e apresentava sinais de desnutrição. “Ela estava com o corpo inchado, a cara e os pés também, não comia”. Diz a avó de Kuleny, Maria da Conceição.
Em Dezembro de 2019, Nilifa, com apenas 1 ano de idade também deu entrada no mesmo centro, pouco depois da morte da mãe, o pequeno lutava para sobreviver com a ajuda da irmã de 13 anos e a avó.
Kuleny de 5 anos de idade e Nilifa 1 ano de idade, vivem na aldeia Oifidi, município de Cuanhama, cerca de 20 kilometros do centro da Cidade de Ondjiva. A aldeia cuja fonte de subsistência é a criação de gado e o campo foi fortemente afectada pela escasseasses de água que levou ao agravamento da situação nutricional.
A vida destas crianças estava em perigo se não fosse a intervenção dos agentes responsáveis pela busca de casos de desnutrição na comunidade. As duas crianças foram identificadas por Maria Mwanheguange, uma Agente Comunitária local, durante as buscas feitas no âmbito do programa apoiado pelo UNICEF e implementado pela ONG World Vision, na província do Cunene e outras províncias do sul de Angola.

O Programa Terapêutico para Pacientes com Desnutrição no Ambulatório implementado pelo Governo local com o apoio do UNICEF, destinado a crianças com Desnutrição Aguda Severa sem complicações - como o Nilifa e a Kuleny - tem um forte envolvimento da comunidade local para garantir a identificação precoce das crianças desnutridas, o seu rápido encaminhamento a uma unidade de saúde, e o seguimento ou acompanhamento em casa. É este o trabalho de Maria e mais 700 agentes comunitários formados com o apoio do UNICEF.

Maria, camponesa de 48 anos de idade, pelo menos 3 vezes na semana sai para fazer o acompanhamento das cerca de 12 crianças sob sua supervisão e outras que estejam na sua jurisdição.
Um dos seus principais instrumentos de trabalho é uma simples fita de plástico que mede a circunferência do antebraço da criança. “Nós fazemos sempre a medição no braço das criança. Se a fita marcar o vermelho é sinal de perigo, enviamos para o centro”. Diz Maria.
“Quando medimos pela primeira vez o Nilifa e a Kuleny estavam na área vermelha e por isso enviamos o Centro de Saúde de Caculuvale onde foram atendidas pelos enfermeiros”. Contou a agente comunitária.

“No hospital fomos bem recebidos, e nos deram a papa para a criança”, conta a avó de Nilifa, referindo-se aos pacotes de Plumpy nut ou também conhecido como do Produto Terapêutico pronto para Consumo. Trata-se de uma pasta feita de ginguba/amendoim com bastante calorias, vitaminas e minerais que contribuem para a rápida recuperação da criança.
“Deram-nos cerca de 20 pacotes para dar a criança”, diz a avó de Kuleny, que semanalmente se dirige ao Centro de Saúde para pegar a quantidade necessária para a sua neta.

Foram necessários cerca de 5 meses para que a situação de Kuleny começasse a melhorar. “Agora já brinca, já canta e até o cabelo está grande”, diz a avó satisfeita pela recuperação da neta, que deve continuar a receber o acompanhamento da Unidade Sanitária e comer periodicamente o suplemento nutricional.
Já Nilifa, após 3 meses de acompanhamento recuperou totalmente e já não tem necessidade de continuar a consumir a pasta. O desafio agora é assegurar a sua dieta pois, como conta a avó, apesar da chuva ainda não têm alimento suficiente para a família, e a dieta é baseada no milho e na massambala.
As duas crianças entram assim no grupo de mais de 7.873 crianças com desnutrição aguda grave, encaminhadas para tratamento em 28 unidades e 210 programas de tratamento localizados nos municípios alvo das intervenções do UNICEF e parceiros.
