COVID-19: Longe das escolas crianças aprendem por meio da rádio e da televisão
Com as escolas encerradas, alguns professores trocaram as salas de aulas pelos estúdios de rádio e TV e garantem que as crianças continuem a receber as lições em confinamento
LUANDA, Angola - Bernardo Gabriel tem 14 anos de Idade, vive com os pais na aldeia de Camizumbo, município do Icolo e Bengo, em Luanda. Desde Março que não vai à escola, porque está fechada devido as medidas de prevenção contra à COVID-19. Mas, apesar de estar em casa o aluno da 7ª classe faz o que está ao seu alcance para continuar a aprender.
Na sua casa de chapa, onde apenas uma cortina separa os compartimentos, Bernardo coloca os seus cadernos na mesa de plástico e com ajuda do rádio do seu pai, que funciona a luz solar acompanha as aulas transmitidas pela rádio, todos os dias a partir das 14 horas. Bernardo reconhece que não é o mesmo que estar numa sala de aulas com os colegas, e apesar do tempo curto ele consegue lembrar de algumas matérias.

O grande desafio que enfrenta é a indisponibilidade de alguns materiais para acompanhar as aulas. Por isso, “quando tem alguma dúvida procura um adulto mais próximo para esclarecer”, conta o adolescente.
Como Bernardo, as irmãs Maricélia e Anaia que frequentam a iniciação e 4ª classe também estudam em casa. Nestes meses, longe da escola, as duas irmãs recebem o apoio da mãe no processo de aprendizagem.
Todos os dias de manhã, a mãe as acompanha nas actividades de aprendizagem por meio de exercícios que recebem dos professores pela internet e algumas vezes pela televisão. O período de confinamento devido à COVID-19 tem sido um período de adaptação tanto para as meninas como a mãe.
“No início foi um pouco complicado fazê-las entender porquê estavam em casa e mantê-las serenas mas depois de muita conversa consegui fazer com que elas se divertissem e elas foram percebendo que era necessário estarem em casa” conta a mãe Ana Teixeira.
Ana Teixeira, que trabalga a partir de casa, mantem uma rotina que ajuda as crianças a desenvolverem outras habilidades. Procura explorar a criatividade das suas filhas e aprimorar o seu aprendizado por meio de jogos, brincadeiras e também pelo diálogo, particularmente nos momentos de maior stress.

Um plano de contingência para assegurar o direito a educação
Em Angola mais de 11 milhões de alunos do ensino primário e secundário estão em casa desde o encerramento das escolas em Março de 2020, altura em que foram notificados os primeiros casos da COVID-19, em Luanda, epicentro da pandemia em Angola.
Como aconteceu em emergências de saúde pública, o encerramento de escolas pode ter consequências adversas para o bem-estar e o aprendizado das crianças - principalmente para crianças de comunidades vulneráveis”, diz o Especialista em Educação do UNICEF, Wesley Galt.
“Recomenda-se que ao se encerrarem as escolas hajam planos sólidos para garantir a continuidade do aprendizado, incluindo opções de aprendizado a distância e acesso a serviços essenciais para todas as crianças” acrescenta o especialista do UNICEF, que considera também que esses planos incluam as etapas necessárias para a eventual reabertura segura das escolas.
Como resposta a situação provocada pela pandemia o Ministério da Educação e parceiros como o UNICEF, trabalham na implementação de um Plano de Contingência do sector, que inclui dentre outras medidas a transmissão de aulas pela rádio e televisão.

“Este plano procura garantir que todas as crianças e jovens, em Angola continuem a beneficiar do seu direito à educação de qualidade durante a pandemia da COVID-19, num ambiente seguro e saudável”, diz o Director Nacional do Ensino Geral do Ministério da Educação, Gabriel Boaventura.
Em colaboração com o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, vários professores desde a iniciação até a 9ª classe, trocaram a sala de aulas pelos estúdios da Rádio Nacional de Angola e da Televisão Pública de Angola, onde são gravados diariamente um pacote de conteúdos mínimos para assegurar que as crianças continuem a aprender neste período em que as escolas estão fechadas.
A professora do 1º ciclo, Maria da Conceição - uma das várias professoras que assumiram este desafio - conta que “esta experiência tem sido uma mais valia tanto para os professores que participam na gravação como para aqueles que acompanham a partir de casa”. Acrescenta a professora que “é um momento para aperfeiçoar as metodologias de ensino e têm recebido o feedback de outros professores”.
O pais ainda vive um período de incertezas e não há previsões do início das aulas. Por isso enquanto se criam as condições para o regresso às aulas de forma segura, professores e famílias, continuam a assegurar que o Direito a educação continue a ser respeitado.
