APROSOC: inclusão social e acesso a oportunidades económicas através de projectos comunitários

Conheça a história de Angela Samanjolo que usou a sua educação para quebrar barreiras e para transformar vidas.

Emanuel Paim
Inclusao social APROSOC
UNICEF
08 Março 2022

Angela samanjolo é casada e tem 31 anos de idade, natural da provincia do Bié, local em Angola que mais recentiu os efeitos da Guerra civil.

Angela tem um trajecto de vida inspirador! Durante o conflito armado em Angola ainda pequenina, com sua mãe e irmãos teve de percorrer o trajecto dificil a pé, até a republica da Zambia e voltou a atravessar a fronteira com destino a república da Namibia.

Conta que foi uma jornada muito dificil, os pés incharam de tanto caminhar, criou cicatrizes marcantes no coiro cabeludo pois carregava artigos pesados na caminhada que levou incontáveis dias, entre matas e fugindo sempre dos perigos de minas, fogo cruzado ou até mesmo de animais selvagens.  

“ Foi uma experiência dura para uma criança...  eu, a minha irmã mais velha nossa mãe que se encontrava em estado de gestação tivemos de atravessar desde a Zambia até a Namibia a pé.  Não foi nada facil contraimos varios problemas de saúde... contrai sarna por causas das condições e outras doêncas preveniveis com saneamento basico. Para sobreviver  faziamos trabalhos domesticos em casas de pessoas estranhas, faziamos tudo para sobreviver”.

Perante tamanha dificuldades Angela, recorda de forma viva as palavras inspiradoras de sua mãe “ Educação e conhecimento é a chave para mudarmos a nossa condição... Se hoje comes lombi (ervas), com educação vais conseguir comer o pão que desejas...  as meninas precisam de educação”.

Um espirito de revolta e vontade de vencer inspirado pelos conselhos de sua mãe despertou em Angela a necessidade de perseguir a educação formal  e de ajudar as outras mulheres e jovens como ela que passavam por grandes necessidades  e falta de oportunidades.

Angela envolveu-se em varios tipos de actividades para conseguir receita suficiente e pagar os seus estudos, desde trabalho domesticos ao comercio informal “ muitas vezes pedia material por emprestimo aos meus colegas, mas eles não se importavam pois queriam sempre que fizesse parte dos seus grupos de estudo”. Dada a sua dedicação aos estudos, evidenciou-se entre os estudantes e para continuar a sustentar os estudos Angela passou a dar aulas privadas em colegas e apoia-los academicamente, hoje é formada em contabilidade, gestão e financas.

Angela
UNICEF/ANG-2022/Emanuel Paim

O regresso a terra natal

Angela sempre sonhou em regressar ao país! Após  conclusão dos seus estudos e com a educação que sempre almejou conseguiu emprego na província do Bié, tendo como primeira missão de trabalho a realização de um estudo de mercado no municipio do Kwemba em uma das comunidades de dificil acesso e com vasto numero de população em situação de vulnerabilidade.  

“O trabalho no Kwemba fez-me entender mais sobre as pessoas as suas necessidades e a minha vontade para trabalhar pelas comunidades vulneraveis aumentou. A minha infancia ensinou-me que nós existimos pela criança e para a criança”.  

Angela é hoje coordenadora do Programa Todos Unidos Pela Primeira Infância (TUPPI), que abrange as crianças dos 0 aos 6 anos, ou seja, desde o nascimento até o início da educação formal. TUPPI enquadra-se no ambito do projecto APROSOC, financiado pela União Europpeia e que na sua intervenção, tem desenvolvido acções concretas que objectivam a criação de condições para que meninas e meninos cresçam e se desenvolvam de forma saudável.

Angela lembra que passados 2 anos após o início da sua implementação, já se pode constatar o alto impacto do Projecto TUPPI, que além de ocupar as crianças com brincadeiras educativas e actividades lúdico-pedagógicas, permitiu detectar as necessidades de registo de nascimento e vacinação, como também na identificação dos problemas de saúde, higienização e violência infantil nas comunidades.

Mas o trabalho não fica por ali.. a nivel do APROSOC na provincia do Bié criaram-se 8 redes de protecção da crianca, e foram capacitados mais de 600 tecnicos nas administrações municipais desde o processo de protecao da crianca, os fluxos de encaminhamento de casos de violencia contra a crianca e gestao destes casos para os intervenientes do sector estejam munidos  de ferramentas para actuar em conformidade.

Hoje Angela sente-se realizada e advoga que a edução das meninas continua a ser uma importante ferramenta para quebrar o ciclo de pobreza e desenvolver a sua comunidade.  Espera que crianças possam ter os seus direitos respeitados e tem trabalhado de forma voluntaria para apoiar grupos de emponderamento de mulheres e meninas. A nível do APROSOC angela encontra-se motivada pela nova abordagem do projecto voltado no trabalho com questões de genero. “Vai ser interessante este trabalho com mulheres que estarão a monitorar as politicas publicas… estou anciosa em começar a implementação do Tuppi com as meninas e adolescentes gravidas. Olhando para o seu trajecto Angela sente que esta no melhor lugar, Olhando para o meu trajecto não poderia estar em lugar melhor isto é intervir na sua comunidade quebrando barreiras para inclusão social e acesso a oportunidades económicas através de projectos comunitários garantindo assim melhores oportunidades de vida para cada criança.

Angela
UNICEF