Activistas em todo lado e a tempo inteiro. Uma odisseia de resiliência, empatia e amor ao próximo

Os activistas sociais do projecto APROSOC, estabelecem a ponte entre os problemas das comunidades e a solução, e levam os serviços sociais mais próximos dos cidadãos

Helder Guimarães
Activistas Uige
UNICEF/ANG-2021/Hélder Guimarães
16 Novembro 2021

Uíge, Novembro 2021 - Filomena Ernesto e Matondo Fila são duas dos quatro activistas que compõem o Centro de Acção Social Integrada (CASI) antena do bairro papelão, sector 3, no município do Uíge sede, província do Uíge.

Filomena Fernando Ernesto de 26 anos, solteira, natural do município do Cazenga em Luanda, vive na província do Uíge desde os 16 anos, onde fez quase todo o seu percurso de vida. Mãe de dois meninos, é técnica média de ciências físicas e biológicas e está a cursar o terceiro ano do curso de sociologia no Instituto Superior Politécnico do Uíge.

Matondo Fila, de 32 anos de idade, natural do Uíge, é estudante finalista do curso superior de biologia no ISCED do Uíge, é solteira e não tem filhos. A jovem activista afirma que o trabalho nos CASI’s teve um grande impacto na sua vida pessoal. 

A Municipalização da Acção Social (MAS) é um novo modelo de intervenção de descentralização das políticas sociais que conta com o apoio do projecto APROSOC - Apoio à Protecção Social, implementado com suporte técnico do UNICEF e o financiamento da União Europeia.

O trabalho dos activistas é fazer recolha de dados e informações das famílias vulneráveis e o acompanhamento das mesmas. “Fazemos o nosso trabalho de coração. Ver o sorriso no rosto das pessoas que ajudamos é muito gratificante, não tem preço para nós”, afirma Filomena com um olhar alegre.

“O activista nunca pode dizer que vai resolver o problema. Não pode fazer promessas porque mesmo que já saiba a solução, pode sempre haver algum imprevisto. Então não deve prometer”, afirma Filomena, garantindo ser esta a primeira lição que um activista deve ter em mente. 

As activistas contam que embora estejam a trabalhar na área social há pouco mais de quatro anos, já são reconhecidas nas suas comunidades como conciliadoras e quase sempre são chamadas para mediar conflitos. “Sempre tem alguém que vem nos pedir ajuda para resolver algum problema”, afirma a activista Matondo.

“Os meus filhos dizem: a minha mãe é polícia que não usa farda”. Nos conta Filomena com um sorriso nos lábios, acrescentando que os seus filhos pré-adolescentes lhe reportam o que acontece no bairro sempre que ela está ausenta da comunidade.

Enquanto Filomena é mais extrovertida e mais falante, a Matondo, por seu lado, é mais reservada, mas nos conta que “este trabalho me ajudou a vencer um pouco a minha timidez”. Declara a jovem dizendo que o facto de ter que trabalhar e interagir com as comunidades fez com que se tornasse mais sociável.

Activistas CASI Uige
UNICEF/ANG-2021/Hélder Guimarães

As activistas beneficiaram de formações que incluíram módulos sobre introdução à Intervenção Comunitária, onde através de diferentes exercícios, como técnicas de entrevista e dinâmicas de comunicação interpessoal, os activistas começam a desenvolver aptidões necessárias para trabalharem com as comunidades.

“Isso me ajudou muito, aprendi a lidar melhor com as pessoas, criar proximidade com o outro e saber como falar com elas. Aprendo muito aqui, não só apenas com as formações, mas é um aprendizado que levarei comigo para sempre”, assim nos conta Matondo Fila.

Perguntamos às activistas quais são as ocorrências mais frequentes no dia a dia de trabalho, a resposta foi clara. Casos de idosos e crianças são os mais frequentes, “todos os dias que chegamos ao CASI tem sempre um caso de um idoso ou de uma criança”, dispara Filomena.

“Se não for de uma criança que está fora do sistema de ensino ou sofre maus tratos, é de um idoso que foi abandonado ou padece de uma qualquer enfermidade”, acrescentam as activistas visivelmente emocionadas.

Os activistas sociais do Projecto APROSOC, como são Filomena e Matondo, além de estabelecerem a ponte entre os problemas das comunidades e a solução, devem sobretudo, levar os serviços sociais mais próximos dos cidadãos pois são militantes da causa social.

Matondo Fila nos confessou que no início demorou a aceitar a condição de activista social, mas hoje “eu levo o activismo em todo lado, seja no seio familiar ou não, sempre que houver uma situação de prevenção, promoção e protecção, eu tenho que intervir esteja uniformizada ou não”. Declara.

“Estamos sempre muito motivadas para fazer o nosso trabalho, só ficamos tristes quando os casos não têm resposta”, declaram as activistas acrescentando que, “isso é que nos desmotiva, mas ainda assim não desistimos porque quando a resposta vem e vemos a cara de alegria de uma criança, de uma mãe ou mesmo de uma família por ter a sua questão resolvida, isso não tem preço”, anunciaram.

Os Activistas dos CASI’s municipais ou de antena, são os principais actores junto às comunidades, são eles que fortalecem a protecção social de base através da Municipalização da Acção Social no âmbito do projecto APOSOC.

Filomena Ernesto e Matondo Fila são duas jovens apaixonadas pelo serviço social, “as vezes nos colocamos no lugar dos vulneráveis”, confessam. O modelo da Municipalização da Accão Social garante, através dos três P’s – Prevenção, Promoção e Protecção, a proximidade dos serviços com as comunidades vulneráveis fazendo jus ao lema do projecto que é Serviços Sociais mais perto do cidadão.